Medicina regenerativa na dermatologia: nanofat e o uso de gordura autóloga
- Carla Knust
- 9 de set.
- 4 min de leitura
O que é nanofat e como ele se relaciona à gordura autóloga?
“Gordura autóloga” é a gordura do próprio paciente utilizada terapeuticamente após coleta por lipoaspiração de pequena escala. Esse material pode ser processado em diferentes frações:
Macrofat/microfat: mantêm adipócitos viáveis e são usados principalmente para volume (preenchimento).
Nanofat: resultado de emulsificação e filtração da lipoaspiração; praticamente sem adipócitos, porém rico em células e fatores do chamado estroma vascular (SVF), incluindo células-tronco derivadas do tecido adiposo (ADSCs) e matriz extracelular. O conceito moderno de nanofat foi descrito por Tonnard e col. e, desde então, vem sendo utilizado sobretudo para qualidade de pele e cicatrizes superficiais.
Essa fração atua principalmente por efeitos parácrinos (sinalização biológica) e bioestimulação tecidual — diferente do microfat, que promove volume.

Principais indicações da medicina regenerativa na dermatologia (o que a ciência mostra)
1) Qualidade de pele e rejuvenescimento superficial
Estudos clínicos e revisões relatam melhora de textura, rítides finas e discrômias superficiais após a injeção de nanofat em plano intradérmico/subdérmico, muitas vezes combinada a microfat para volume quando necessário.
2) Cicatrizes (incluindo cicatriz de acne)
Há evidências crescentes de benefício em cicatrizes atróficas e outras cicatrizes de pele, com ganho de regularidade, elasticidade e coloração mais homogênea. Revisões recentes — inclusive focadas em acne — apontam resultados geralmente satisfatórios, embora com heterogeneidade metodológica e necessidade de estudos controlados maiores.
3) Alopecia androgenética (como adjuvante)
O uso de frações ricas em SVF/ADSCs, incluindo nanofat (ou variantes concentradas), tem mostrado sinais promissores como terapia complementar para alopecia androgenética, com dados pré-clínicos (animais) e séries clínicas iniciais; a evidência ainda é preliminar e não substitui tratamentos consagrados.
Importante: comparações diretas com lasers, peelings, microagulhamento e PRP existem em poucos estudos e, em geral, a literatura sugere sinergia mais do que substituição — a escolha costuma ser individualizada.
Como o procedimento é feito (visão geral)
Coleta: lipoaspiração pequena (áreas doadoras como abdome/flancos) sob anestesia local.
Processamento: o material é emulsionado e filtrado em circuito fechado, gerando nanofat estéril.
Aplicação: injeção com microcânulas/agulhas finas em múltiplos pontos da derme/subderme na área a tratar; quando há perda de volume, pode-se combinar microfat em planos mais profundos.
Sessões podem ser únicas ou seriadas, a depender do objetivo (cicatriz x rejuvenescimento) e da resposta clínica.
O que esperar: resultados e durabilidade
Nanofat não é um preenchedor volumizador. Os ganhos são sobretudo em qualidade de pele e cicatrizes superficiais; quando há necessidade de volume, associa-se microfat.
A melhora costuma ser progressiva ao longo de semanas a meses, coerente com o mecanismo de bioestimulação. A durabilidade varia; séries clínicas sugerem manutenção de benefício, mas faltam ensaios robustos de longo prazo.
No caso de cicatrizes, muitas vezes são indicados protocolos combinados (ex.: subcisão, laser fracionado, microagulhamento) para otimizar o resultado.
Segurança: prós e contras
Vantagens
Autólogo (do próprio paciente), reduzindo risco de hipersensibilidade.
Foco em melhora tecidual (textura, elasticidade, coloração) com perfil de recuperação geralmente rápido (edema e equimoses transitórios).
Limitações
Evidência ainda em consolidação: grande parte dos estudos são séries de casos ou coortes; faltam ensaios controlados maiores para padronizar protocolos e mensurar durabilidade.
Resultados graduais e dependentes de técnica, indicação correta e características individuais (tabagismo, comorbidades, fototipo, extensão da cicatriz etc).
Riscos e efeitos adversos
Comuns e autolimitados: edema, equimose, desconforto, irregularidades temporárias.
Raros porém graves: êmbolo gorduroso por injeção intravascular, podendo causar cegueira ou acidente vascular — risco descrito também com outros preenchedores. A mitigação envolve técnica adequada, conhecimento anatômico, cânulas rombas quando indicado e medidas de segurança em áreas de alto risco (ex.: região glabelar/periorbitária).
Por isso, o procedimento deve ser realizado por médico treinado, em ambiente adequado e com consentimento informado claro sobre benefícios e riscos.
Quem pode se beneficiar?
Cicatrizes atróficas (p. ex., acne) e cicatrizes displásicas superficiais.
Textura e rítides finas em áreas como face, pescoço e pálpebras (com técnica apropriada).
Alopecia androgenética como adjuvante a terapias padrão (minoxidil, finasterida/dutasterida, microagulhamento, PRP).Contraindicações relativas incluem infecção ativa na área, distúrbios de coagulação descompensados e impossibilidade de colher gordura com segurança. A avaliação é sempre individualizada.
Perguntas frequentes
Nanofat substitui ácido hialurônico? Não. Nanofat atua na qualidade do tecido; quando a queixa é volume/contorno, o indicado costuma ser microfat ou preenchedores específicos, que podem ser combinados em planos diferentes.
Quantas sessões são necessárias? Depende da indicação. Para cicatrizes, muitas vezes são feitas múltiplas sessões e/ou combinações com subcisão/laser. Para rejuvenescimento superficial, 1–2 sessões podem ser suficientes, com manutenção conforme resposta.
E quanto ao couro cabeludo? Como adjuvante: há sinais de benefício, mas a evidência ainda é inicial. O tratamento padrão continua fundamental.
A recuperação é rápida? Geralmente, sim: edema e roxos por alguns dias. Procedimentos combinados (p.ex., laser fracionado) podem prolongar o downtime.
Conclusão
A medicina regenerativa com nanofat e outras frações de gordura autóloga amplia o arsenal da dermatologia clínica e estética ao atuar na bioqualidade do tecido cutâneo. As melhores indicações atuais concentram-se em cicatrizes e rejuvenescimento superficial, com uso adjuvante em alopecia. Embora os resultados sejam promissores, a literatura ainda demanda ensaios controlados robustos para padronizar protocolos e mensurar a durabilidade dos efeitos. A segurança depende de técnica meticulosa, seleção adequada de pacientes e execução por especialista.




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